Fui Morar Sozinha: Um mês
Tudo maximiza.
A ausência de coisas, das pessoas e da antiga rotina chega a
ser estratosfericamente maior. Torna tudo muito mais interessante que antes.
Coisas que eram irritantes passam a fazer falta; palavras que antes eram
costumeiras passam a ser lembranças boas e a saudade, meu Deus, a saudade chega
a doer. As brincadeirinhas bobas tornam-se insuportavelmente
danosas. Algo falado por telefone ou numa mensagem que antes passava
despercebido, causa um dano gigante. É coisa besta, que passa, mas vem numa
intensidade muito maior. Maximiza.
A solidão, o choro e o riso são elevados à máxima potência,
pois a sensibilidade fica alta. Se choro, choro muito; se rio, eu gargalho; se me
sinto sozinha, machuca; se me sinto feliz, é como se nunca tivesse conhecido a
felicidade na vida.
Às vezes é complicado pra quem não passou por isso entender.
Algumas pessoas podem até achar que é ser chata demais, enjoada demais, que o mundo não gira ao meu redor, que não
entendo o outro lado - o lado de quem fica. Mas não é isso. É que não estar
fisicamente presente torna as coisas muito mais complicadas. É como se você
caísse no esquecimento se alguém não liga, não pergunta como está, não pede sua
opinião ou deixa de fazer algo que fazia quando você estava lá. Tudo maximiza.
Penso que seja uma situação que muita gente tenha passado
(espero, né? rs). Creio que seja algo a ser trabalhado e melhorado com o tempo,
pois estou - absolutamente - bem melhor agora do que na primeira semana.
No domingo, passei a primeira noite sozinha. É difícil ver
as pessoas indo – quando é o caso de alguém te acompanhar na mudança. Não
dormi, acordei umas 5 vezes e sempre olhando pra janela pra ver se já
amanheceu. Além do emocional, o físico conta muito e acordar cansada te deixa
mais desanimada. E, pra minha tristeza, Brigitte estranhou muito nos primeiros
dias.
Qualquer barulho eu já ficava tensa. Se Brigitte olhasse pra
porta é porque tinha alguém lá. A luz? Acesinha. Deixei a da cozinha acesa e o
quarto ficou mais claro. Algumas noites depois, passei a deixar a do banheiro
acesa, fazendo com que o quarto ficasse um pouco mais escuro. Algumas outras
noites após, tomei vergonha na cara e apaguei todas as luzes – pois quem pagará
a conta de luz vai ser..? Eu. E não tô rica pra dormir de luz
acesa.
À medida que consegui ir ajeitando o apartamento, fui me
encontrando mais, pois foi ficando com mais cara de casa. Evitava ver fotos, pois era motivo certo pra
cair no choro de saudade. Os dias foram passando e as aulas começaram,
ocupando mais minha cabeça. Conhecer pessoas novas, lugares e conseguir rir com
gente que nunca vi, ajudou. Me distraí e consegui manter isso, internalizando esse sentimento.
O tempo ajuda. Sair ajuda. Brigitte – nossa! – ajuda muito.
Tem dias que parece que nasci pra morar sozinha e morar EXATAMENTE AQUI, em
Viçosa. Amo meu cantinho, amo chegar em casa, amo (na maioria das vezes) ser "gente grande". Tem dias que minha vontade é catar tudo e voltar pra minha
mãe. Mas o que é a vida sem propósitos? E eu tenho vários, fortes, que me ajudam a continuar e a lembrar do porquê estou aqui.
Estou me superando (e isso é incrivelmente
maravilhoso!). Saber que você é capaz quando muita gente – incluindo você! –
achava que não conseguiria, olha, é uma injeção de ânimo. Só sei que hoje,
um mês depois da mudança, tô dormindo maravilhosamente bem, não olho mais pra
janela, os barulhos não me assustam tanto, tô me adaptando cada dia mais à essa
nova vida e cada segundo que se passa tenho mais entendimento do motivo de estar aqui. A saudade ainda aperta, mas me conforta saber que esse sentimento pode ser saciado.
Tô feliz. E Brigitte também.
Tô feliz. E Brigitte também.
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