Bonita assim
A
atriz Lupita Nyong'o foi eleita, acho que na semana passada, a mulher mais
bonita do mundo pela Revista People. E, desde então, metade da minha timeline
está se derramando em elogios a ela e à revista pela escolha. O motivo
principal dos elogios, ao que me parece, nem é a inquestionável beleza de
Lupita (que talvez não seja a
mulher mais bonita do mundo, mas é certamente uma figura forte entre as mais),
mas a importância dessa indicação no ainda atual – e triste – contexto de discriminação
ao redor do mundo.
Li
que, dentre as 50 mulheres elencadas, apenas três eram negras: Lupita Nyong'o,
Beyoncé Knowles e Halle Berry, todas lindíssimas, que poderiam levar o título de
mais bela sem grandes questionamentos. Mas o que tornou a escolha de Lupita
especial, com base em todos os textos e críticas que li, foi o fato de ela
representar a beleza negra “sem a europeização" das outras concorrentes, com
seus cabelos lisos ou alisados e seus traços finos ou afinados. Eleger uma
mulher negra de nariz arredondado e cabelos crespos como a mais bonita
do mundo é dar um tapa muito bem estalado na cara desse padrão de beleza pobre e “sem
cor” que a sociedade vem nos impondo já há tempo demais. E, felizmente, parece
que as pessoas reconhecem isso agora.
Já
faz algum tempo, mas ainda rende muita ladainha nas redes sociais, a cantora
brasileira Anitta, loira em virtude de um contrato publicitário na época,
submeteu-se a uma série de cirurgias plásticas, sendo uma delas no nariz. E é
impressionante a diferença que o nariz faz no rosto de uma pessoa. Quando saíram
as primeiras fotos, ela parecia outra. Hoje, já há quem diga que ela operou a
boca também – e não é difícil de acreditar. Os mesmos elogiadores da Lupita caíram
em cima da Anitta (até rimou!) e faz mesmo muito sentido. Enquanto uma enfrenta
um padrão de beleza injusto e exclusivo, a outra altera o seu próprio corpo
para nele se incluir.
Anitta
fez por onde, realmente, e falou bastante bobagem, aumentando os fundamentos e
o volume das críticas. Em uma entrevista, ela chegou a dizer que, agora,
finalmente, tinha “cara de rica”, não por preconceito, eu acredito, mas por
ignorância pura e simples mesmo.
Mas,
enquanto a comparam ao Michael Jackson e a acusam de ter “se mutilado”, eu
preciso reconhecer que aprovei o resultado. De verdade. Não pela “cara de rica”
ou pela europeização, mas porque achei que ela ficou mais harmônica mesmo. O semblante
ficou mais jovem e leve, que é exatamente o que a sua personagem (já que nem o
nome dela é verdadeiro) quer representar e precisa transparecer. E,
independente do que a levou a interferir dessa forma na aparência, é importante
lembrar que ela pode fazer o que
quiser nesse sentido. Do furo na orelha ao silicone, todos concordamos que o
corpo é dela, não é mesmo? E, por ser
esse o corpo dela, é importante que ela goste e esteja em paz com ele.
Mas
e quem não está satisfeito com o seu corpo? Nós devemos aceitar as nossas
formas e características ou podemos buscar outras que nos pareçam mais agradáveis?
Nós não fazemos dietas malucas todas as segundas-feiras? Não pintamos os
cabelos? É tinta, tatuagem, piercing, academia, maquiagem... Nós não
estamos sempre alterando as nossas formas em busca de um “embelezamento” que,
muitas vezes, só existe dentro das nossas cabeças? E isso é errado agora?
A
cirurgia plástica não está no mesmo nível do batom e do blush, eu sei, mas não é apenas uma opção um pouco mais dispendiosa
e definitiva de aproximar o corpo que temos do corpo que gostaríamos de ter?
Hoje,
eu não vim trazer respostas.
Imagine
que quem terminou de ler esse texto ganha um vale cirurgia plástica, pra fazer
o que quiser. Se você chegou até aqui, você ganhou. E aí? Tem algo que você
gostaria de mudar?
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