Gorda!
Ser
mulher deve ser muito difícil - e todos concordamos sobre isso. As cobranças e
responsabilidades do mundo são sempre maiores sobre as mulheres. Elas têm que fazer
o que os homens fazem e ainda precisam chamar a atenção das pessoas para isso,
pra provar que são capazes de fazer aquilo tudo. Precisam criar seus filhos da
melhor forma possível (embora isso não seja uma atividade exclusiva da mãe, nós
sabemos que é o que acontece na maioria das famílias). Precisam cuidar das suas
casas - porque a minha família, por exemplo, ensinou aos filhos e netos que as
atividades de casa são de responsabilidade da mulher (e, antes de concordar ou
não, eu confesso que me beneficio muito disso). E, pulando todo esse blá blá
blá em direção ao que, de fato, interessa, elas precisam ser bonitas. Na
verdade, elas não precisam ser "bonitas", elas só não podem ser gordas! Como deve ser
difícil ser uma mulher gorda...
O
melhor livro que li no ano passado (eu quase não li em 2013, confesso, então
esse não teve muita dificuldade em se destacar) chama-se A Dieta do Adultério. Eva Cassady é uma jornalista de meia idade,
casada há mais de vinte anos com um editor de livros e mãe de uma universitária.
Sua vida seguia de forma absolutamente normal até que sua filha foi fazer
intercâmbio, seu marido se tornou editor de um livro sobre emagrecimento
(escrito por uma famosa nessa área) e Eva foi escalada, na revista em que
trabalha, para entrevistar um famoso arquiteto - que, ninguém sabe, foi seu
primeiro namorado. Ela, que parecia acomodada com sua vida, sua carreira, seu
casamento e, principalmente, seus quilinhos a mais, começa a viver e relatar,
da forma mais divertida possível, uma decisiva crise existencial. O segredo do livro é, provavelmente, reunir
problemas tão universais. Eu não precisei ser a Eva para sentir e entender a
pressão social que ela sofria para emagrecer, o medo de uma vida conformada e
conformista e, mais que tudo, a insegurança diante do inesperado reencontro com
o primeiro namorado. Ninguém, em sã consciência, quer parecer vítima do tempo. E Eva iniciou, com muito
sofrimento e excelentes tiradas, uma reviravolta em seu corpo - que,
inevitavelmente, mudou toda a sua vida.
Ri
tanto das frases espirituosas da Eva (e me identifiquei em tantos momentos),
que comprei Tamanho não importa, da
Meg Cabot. Meg Cabot é famosíssima quando se trata de chick lit, autora de O Diário
da Princesa e vários outros livros muitíssimo vendidos no mundo inteiro. Tamanho não importa é divertido, mas não
é bom. É o último livro de uma
trilogia, da qual eu não li os dois primeiros (Tamanho 42 não é gorda e Tamanho
44 também não é gorda). Pelo que entendi, Heater Wells, a mocinha, foi uma famosa cantora adolescente que
perdeu todo o seu dinheiro e viu sua carreira fracassar (bem como seu namoro de
dez anos com um também cantor), caiu no anonimato, ganhou vários quilos e, em
três aventuras diferentes, se viu envolvida em crimes que ajudou a desvendar. A
parte criminal e investigativa é bem fraca e ela realmente desvenda o mistério,
mas é tão "genial" que não precisa de mais que uma página pra isso.
Ao longo de todo o restante do livro, ela vive situações engraçadíssimas e
muito bem detalhadas, das quais eu ri bastante, todas envolvendo seu peso. O
primeiro capítulo é quase todo sobre o dia em que ela decide correr de manhã,
antes do trabalho, e acha que está perdendo seu útero dentro da calça de
ginástica. Depois, ela descreve sua alimentação, suas dores no corpo, as
dificuldades de ser gordinha e a rejeição social ao sobrepeso que retrata a sua
decadência enquanto artista. Todo o livro, os conflitos e a vida dela se
resumem em ser uma "mulher de ossos largos". E isso é muito engraçado
até a vigésima página. Depois, só me fez sentir mal por cada vez que ri de alguém
por ser gordo.
Em
Amor a Vida, a Perséfone era gorda,
enfermeira, gorda, solteira, gorda, virgem e gorda. Teve cenas muito divertidas
sobre as suas tentativas de perder a virgindade mas passou quase toda a novela sendo
humilhada por ser gorda. O preconceito existe, é claro. Muitas (e cada vez
mais) mulheres estão acima do peso e sofrem com olhares, piadas e cobranças de
toda uma sociedade escrava do manequim 38. Mas, assim como em Tamanho não importa, parece que a novela
exagerou ao definir uma personagem
apenas pelo seu peso. A função da Perséfone foi ser gorda. Tudo o que dizia respeito a ela envolvia sua gordura.
Era só esse o seu diferencial. Gordos não são bons ou maus antes de serem gordos. Parece que é importante
demais que sejam gordos (e infelizes no amor por serem gordos) para que possam
se dedicar a ser qualquer outra coisa.
Estou assistindo a Drop Dead Diva agora. Nunca fui muito de séries, mas, como uma amiga disse, essa deve ser a "melhor mistura de humor, leveza e inteligência" já produzida nesse ramo. Para quem não conhece, uma modelo 38 e uma advogada gorda e nada vaidosa morrem no mesmo momento. A modelo, no entanto, chega ao céu e consegue voltar apertando um botão (eu juro que, depois, fica melhor!), mas, como não era o esperado/combinado, acorda no corpo da advogada. Para ficar melhor, o anjo Fred explica que o corpo conserva o cérebro e, consequentemente, a inteligência, mas é a alma que traz as lembranças. Do primeiro capítulo em diante, então, temos uma modelo burra e vaidosa dentro do corpo de uma advogada gorda, inteligente e bem sucedida. Jane, essa nova mulher, tem a inteligência do corpo e a insatisfação da alma com a sua nova condição: a gordura. E, para completar, porque é ficção, gente!, ela trabalha com Graysson, um advogado "bonitão" que era namorado da modelo morta e não consegue ver a advogada gorda como nada mais que um amigão - a ponto de conversar com ela sobre outra mulher, magra, obviamente, e não ser capaz de reconhecer, nela, Jane, a sua alma gêmea. É bom porque envolve Direito, trabalho, insatisfações humanas e excelentes piadas. E é bom também porque a nova Jane descobre cedo que só vai conseguir o amor de Graysson e a paz de espírito de que precisa quando aceitar a sua nova condição - que é o seu novo corpo. Não é uma gorda tentando emagrecer. É uma magra tentando amar seu novo corpo, para que mais alguém seja capaz de o amar. Destaque-se o fato de a modelo renovar completamente os looks da advogada!
Por
que eu disse tudo isso? Não sei. Existem milhares de outras gordas retratadas em
todo tipo de obra (quem não amava Bridget Jones?), cada uma com um diferencial e todas elas unidas pela
gordura, denominador comum dessa espécie literária.
Foram só coisas que pensei nesses últimos dias, enquanto terminava de ler Tamanho não importa e me apaixonava por Drop Dead Diva. E vou terminar como
comecei: como deve ser difícil ser uma
mulher gorda...
(Pra
você que é gorda e está bem com isso, nesse mundo que te rotula e culpa o tempo
inteiro em todos os meios possíveis, PARABÉNS! Você deveria ser a heroína de
todas as histórias!)
Gente. QUE delícia ler esse texto. *_*
ResponderExcluirCongrats, vc se superou!
=)
Servimos bem para servirmos sempre! hahaha
Excluir(valeu a espera??)
;-)
Não. Tá demitido. Me viciou em mais uma série.
Excluir=P
Delícia! Super sincero, a gente se reconhece a cada linha! Parabéns MSA
ResponderExcluir=) Que bom que você gostou, Samuca!
ExcluirSaiba que realmente é muito difícil ser uma mulher gorda!
ResponderExcluirSaiba que realmente é muito difícil ser uma mulher gorda!
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